She Will Be Loved

06:32


She Will Be Loved - Maroon 5

Ela estava chorando.
De novo.
Todos os dias por uma semana ela chorava ao lado da minha porta, e eu não podia fazer nada, afinal, ela era apenas uma garota de 18 anos que não sabia ainda o que era amor.
Eu dava aula naquela universidade faziam cinco anos, e Noelly sempre foi umas das minhas melhores alunas, ela sabia que era capaz, sabia que poderia ser melhor, mas seu namorado sempre a deixava para baixo, fazendo com que cabulasse várias aulas do dia para darem uns amassos atrás da escola, eu ja tinha visto várias vezes, mas eles estavam muito ocupados para me notarem, e, em todas as vezes, Noelly parava ao lado da minha porta e começava a chorar, era uma rotina.
Mas aquele dia seria diferente, eu estava cansado de vê-la chorando praticamente todos os dias, não suportava mais observá-la e não fazer nada, de algum modo, aquilo mexia comigo. Me aproximei dela enquanto saía da sala e coloquei a mão em seu ombro.
-Noelly, posso falar com você um momento?-perguntei com a voz mais calma que conseguia, como seu professor não poderia deixa-lá com medo ou assustada.
Ela me olhou com seus grandes olhos castanhos inchados e vermelhos e acentiu, se levantou com minha ajuda e entrou atrás de mim na sala.
-Bem, eu não vou enrolar, eu te vejo todos os dias chorando ao lado de minha porta, e imagino que isso tenha a ver com seu namorado, como é o nome dele mesmo?
-Tyler...-disse ela, limpando as lágrimas na manga de sua blusa azul.
-Tyler-repeti.-Tem algo acontecendo entre vocês dois?
Ela negou com a cabeça, mas as lágrimas voltaram a rolar.
-Você pode me contar, sou seu professor.
-Não está acontecendo nada Sr.Walker-ela disse mais séria, seu rosto inexpressivo.
Antes que eu pudesse falar algo, o sinal tocou avisando o término das aulas, Noelly pegou sua bolsa que estava na poltrona ao lado da sua e saiu pela porta, me deixando com a boca aberta e palavras inacabadas.
No dia seguinte Noelly não estava no habitual local e horário, me estranhei por alguns minutos, mas logo pensei que eles haviam se entendido.
Eu estava enganado.
Eu tinha hora livre todos os dias na última aula, onde eu aproveitava para corrigir provas e atender alunos com dificuldades, eu estava procurando questões para passar na próxima aula quando ouvi alguém sentar perto da porta, era ela.
Me levantei e olhei para a garota loira que estava encolhida, abraçando os joelhos contra o peito.
-Posso ajudar?-perguntei, me agachando ao seu lado e colocando a mão em seu ombro, como eu fazia com todos.
A garota balançou a cabeça em negativa, eu sabia que ela precisava de minha ajuda, além de Noelly, ninguém mais chorava perto da sala, a não ser que...
-Noelly?-perguntei, mesmo já sabendo a resposta.
Ela não disse e não fez nada, aceitei aquilo como um sim.
Olhei para seu pulso e vi uma marca vermelha recente ao redor, Noelly percebeu que eu estava olhando e abaixou a manga de sua blusa que sempre usava.
-Tyler fez isso?-perguntei com a voz rouca, sentindo a raiva me invadir e algo revirar meu estômago, o que estava acontecendo comigo?
Peguei seu braço por impulso e levantei a manga, revelando uma grande marca de mão ao redor de seu pulso.
-Me solta!-gritou ela, puxando o braço de minhas mãos.
-Você precisa contar para alguém-puxei seu outro braço e vi uma marca igual.
-Se você não me soltar, eu vou gritar-ela disse brava, me fazendo recuar.
Soltei seu braço e me levantei.
-Não preciso que você me ajude.
-Faça o que quiser-eu disse simplesmente, voltando para a sala e fechando a porta.
Na volta para casa eu senti algo que nunca havia sentido antes, algo como remorso misturado com angústia e ódio, mas porquê e de quem?
Estacionei o carro na frente de casa e saí, fui até a porta e girei a chave, abrindo a porta e encontrando Karen de lingerie preta sorrindo para mim.
-Você chegou tarde-ela disse enquanto tirava meu terno e jogava no sofá.
-Tive que corrigir algumas provas...-tentei dizer entre os beijos que ela me dava.
-Mas agora você está aqui, e hoje a noite eu quero me divertir-Karen desabotoou minha calça e tirou minha camisa.
Eu não estava nem um pouco afim de fazer qualquer coisa aquela noite, os sentimentos ainda me perturbavam enquanto ela me despia, mas foi interrompida quando a campainha tocou.
-Quem será agora?-ela perguntou, pegou meu terno e colocou em seu corpo semi nu.
-Vou ver quem é-salvo pelo gongo. Arrumei minha roupa e abotoei a calça, passei a mão no cabelo e fui até a porta.
Olhei pelo olho mágico e vi Noelly usando a roupa que estava algumas horas atrás, ela estava olhando para trás o tempo todo, parecia assustada. Quando foi bater na porta novamente eu virei a maçaneta, ela me olhou espantada e me abraçou.
-Ele está atrás de mim, disse que se eu tentasse fugir iria me matar-seus olhos estavam molhados com as lágrimas que escorriam pelo seu rosto, passei os braços em seu redor e a puxei para mim, como se isso fosse protegê-la.
-Onde você o viu pela última vez?-perguntei, já sabendo o que fazer.
-Perto da conveniência, ele está muito bêbado e não consegue quase nem andar direito, só por isso consegui fugir...
-Fique aqui, eu já volto.
Ela acentiu e me esperou em frente à porta, Karen me observava pela janela da sala.
Fui até a conveniência que ficava uma rua atrás, e como Noelly havia falado, Tyler estava segurando uma garrafa quase vazia de vodka, e cambaleando veio em minha direção.
-O que faz aqui professor? Esse não é seu lugar.
-Olha aqui seu merdinha, se você não se afastar da Noelly eu vou matar você-quase cuspi em seu rosto, meu indicador apontava para o seu rosto, e depois de anos e anos praticando lutas marciais, minha confiança estava no máximo.
-E quem é você para dizer isso? Falta quanto tempo para se aposentar? Cinco anos? Seu velhote-ele disse sorrindo, seu hálito fedendo a álcool.
Minha raiva levou meu punho até seu nariz, que jorrou sangue em meu terno.
-Seu filho da puta!-gritou Tyler, vindo em minha direção com o punho cerrado, mas ele não foi tão longe, seus pés tropeçaram em uma parte elevada do piso e ele caiu no chão, fazendo mais sangue sair de seu nariz.
-Eu vou matar você-disse ele se levantando e cuspindo sangue ao meu lado.
-Tente, mas amanhã, hoje quem levou a vitória fui eu-me virei e dei dois passos.-Se você ameaçar Noelly novamente, vou te levar para a cadeia-voltei a andar com a adrenalina percorrendo meu corpo, quando avistei a casa comecei a correr, meu corpo já não me obedecia mais, só ansiava chegar logo e ver minha amada, minha mulher.
Passei pela porta e me aproximei de Karen, dei um beijo em sua testa e fitei sua expressão espantada.
-O que você fez?
Olhei para trás e vi Noelly com a mesma expressão, ela estava em pé ao lado do sofá, me olhando com a mesma curiosidade, porém com uma gratidão no olhar.
-Eu te amo muito-segurei o rosto de Karen em minhas mãos, seus olhos fixos nos meus.-Me desculpe.
Me virei e fui em direção à Noelly, porém ela não estava mais lá, olhei pela janela e a vi correr pela rua deserta.
Olhei para Karen e vi que estava chorando no sofá, agora já estava feito.
Comecei a correr e meus pensamentos me invadiram.
Raiva, ódio, felicidade, amor.
Era isso que eu sentia, tudo que eu sentia quando estava com ela, com Noelly.
Eu não tinha percebido antes, sempre havia sido fiel à minha mulher, mas eu estava enganado, era Noelly quem eu amava, que eu sempre amei desde a primeira vez que a vi chorando ao lado da porta, era ela quem eu queria proteger.
Consegui alcançá-la não muito longe da casa, segurei seu pulso e a puxei para mim, passando as mãos ao redor de sua cintura e apoiando minha cabeça em seu pescoço.
-Me desculpe Noelly, me desculpe.
Percebi que ela chorava enquanto seu corpo tremia, quando meu coração falou que eu precisava protegê-la, e era o que eu ia fazer.
Segurei seu rosto e beijei sua testa, seus olhos, suas bochechas, seu queixo, seus lábios.
-Você vai ser amada Noelly, como nunca foi.
E pela primeira vez, a vi sorrir de verdade.

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